segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

No fim de semana li um artigo do Stephen Kanitz e um dos parágrafos me chamou atenção. Ele dizia que aprendeu com a sua mãe inglesa a sempre dizer o que pensa das pessoas com quem convive, o que lhe causa enormes problemas sociais. Por isso já foi repreendido diversas vezes e sempre ouve que “no Brasil não se faz isso, porque magoa as pessoas”. Existe uma cordialidade brasileira que supõe que preferimos nunca ser corrigidos de nossa ignorância por amigos e parentes, e continuar ignorantes para sempre. O que o convenceu a mudar e até a mentir polidamente foi uma frase que espelha bem nossa cultura: "Você prefere ter sempre a razão ou prefere ter sempre amigos?". Nem passa pela nossa cabeça que é possível criar uma sociedade com ambos (razão e amigos). Amigos que tenham a coragem de dizer a verdade, em vez dos puxa-sacos que nos rodeiam.

Eu frequentemente sofro desse mal, falar sempre o que eu penso, o que me gera o título de grossa, mandona, dona da verdade. Confesso que sempre preferi ser a “grossa” do que a dissimulada, que ri na frente e fala mal por trás. Acho estranho todo esse teatro. Mas, “pensando aqui com os meus botões”, percebo que em algumas situações ficar calado é o melhor a se fazer. O mundo não precisa saber sempre que eu discordar de algo. Assim, eu não crio situações delicadas, a pessoa que está falando/contando algo não fica aborrecida, eu instalo o sorriso nº. 5, faço cara de paisagem e pronto, vamos em frente.


Meu pai me contou que, quando se mudou da Itália para o Brasil, já com 28 anos, não entendia muito bem quando encontrava um conhecido na rua e a pessoa falava na hora de se despedir: “passa lá em casa qualquer hora dessas”. Ele ia mesmo. Aqui isso nunca foi certeza que a pessoa quisesse que você realmente aparecesse na casa dela. Falar por educação não é característica do europeu. Acabei assimilando esse “falar na lata” o que me causa alguns conflitos sociais. Acho a busca do meio termo uma tarefa árdua, que deve ser perseguida diariamente. Não gostaria de me enquadrar na cultura brasileira de dizer o que não sinto, só pra não perder o amigo. Mas como diria minha terapeuta, nem tudo precisa ser dito. O silêncio, em vários momentos, tem o seu valor. Bem, vou incluir essa melhoria na minha listinha para 2008. Boa semana!

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente o texto amiga!